quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Iggor Dias Martins de Oliveira


Quem disse que eu não iria agüentar? Eu mesmo disse que não agüentaria ver meu filho saindo da barriga da mãe em meio a sangue, liquido de placenta, e tudo que se encontra dentro da barriga de uma grávida. Pois é, sempre disse aos quatro ventos que jamais isso aconteceria, que eu não teria estomago e muito menos coragem pra tal feito. E não é que tive! Assisti o acontecimento mais espetacular da minha vida, o parto do meu filho, e nada mais justo do que um relato do que aconteceu comigo a pouco mais de uma semana.
Segunda-feira a noite: Cheguei da casa da minha mãe, colocamos a Gi (filha) na cama e a Ju (esposa) foi tomar banho. A Ju tava cansada demais por conta do peso da barriga, tomou um banho e foi deitar. Fui tomar banho na seqüência, e quando saí do banheiro e deitei ao lado dela, senti sua barriga mexer de uma forma diferente, estava muito mais forte do que o comum. Acordei ela, que pra variar já estava dormindo, e fiz o comentário:
- “Amor, o Iggor tá mexendo demais”
E ela me respondeu:
- “Relaxa, daqui a uns 3 ou 4 dias ele estará aqui conosco; vou fazer xixi e já volto”.
Achei inocência demais esperá-la ir ao banheiro e que realmente voltaríamos pra cama e dormiríamos... decidi acompanhá-la e quando ela acendeu a luz, e começou a abaixar a calcinha me olhou nos olhos e disse “Amor, a bolsa estourou”. Aquilo pra mim foi como se ela tivesse dito “o mundo vai acabar em 5 segundos”... não sabia o que fazer/dizer, e perguntei a ela “Vamos pro hospital?”... rs. A resposta era tão obvia, mas demorou pra cair a ficha de que meu filho iria nascer dentro de algumas horas. Liguei pra minha mãe, sogra, irmãos, cunhado, antes de sair de casa... chegamos 00:30hs. no hospital e demos entrada nos papeis... faltava pouco. Internação, muita paciência, conversas de ansiedade, e mais paciência...
Minha sogra foi ao quarto ajudar a Ju a tomar banho e na volta me veio com uma surpresa. “Digo, esse papel precisa ser assinado pela pessoa que for assistir o parto, e eu não vou assistir não. Caso você não vá, tem que devolver e avisar que ela irá ficar sozinha”. BUMMM... uma bomba, eu não iria assistir o parto, já havíamos combinado que eu não assistiria... e o que dizer diante da minha mãe e sogra? E a minha hombridade? Não tive escolha e disse com voz de quem está totalmente seguro do que está fazendo. “Eu assino, eu vou assistir o parto”. Depois de alguns segundos a ficha realmente caiu e minhas pernas ficaram um pouco tremulas, mas segurei a onda e me acostumei com a idéia... mesmo porque não tinha mais como voltar na decisão, e eu não queria voltar atrás.
Passamos a madrugada ali na sala de espera do Hospital São Camilo Santana, e ás 06:00 a Ju foi induzida ao parto... soro com remédio pra aumentar as contrações. Dois dedos de dilatação que viraram 3 e depois 6 e depois 7 e... hora de irmos pra sala de parto. “papai, você entra nesta sala e coloca uma roupa assim, assado... blá blá blá”, eu nem estava ouvindo direito as instruções da enfermeira, só conseguia olhar pra Ju, e de alguma forma tentar ajudá-la com aquelas dores que só aumentavam a cada minuto, mas tive que me preparar pra hora H.
Entrei sozinho no banheiro pra trocar de roupas, me ajoelhei em frente a privada e antes mesmo de trocar de roupas fui conversar com Deus pra Ele tomar as rédeas e cuidar de tudo dali pra frente, pois eu sabia que precisaríamos muito da ajuda d’Ele. Me levantei, coloquei a tal roupa de médico (diga-se de passagem, só conseguia lembrar do desenho do Pica Pau “chamando Dr. Ranchocruts”)... roupa azul, mascara, toca, protetor de tênis... me olhei no espelho e o misto de felicidade e nervosismo me fez rir por alguns instantes... e segui a sala de parto.
A equipe médica era pequena, totalmente diferente do que eu achei que fosse encontrar... achei que umas 15 pessoas ajudassem no parto, que ficaria uma correria desesperadora, enfim... na sala havia apenas 1 anestesista, 2 enfermeiras, 2 médicos e uma pediatra... eu e a Jú. As contrações aumentavam e ela começou a fazer muita força, com a médica incentivando pra ela forçar ainda mais... aquilo pra mim já era uma tortura psicológica, já estava me sentindo mal de ver aquela cena, ver minha esposa sentido dor (bem menos por conta da anestesia, mas mesmo assim ainda sentindo pequenas dores da contração), e eu ali totalmente impotente... só conseguia segurar sua mão e limpar o suor no seu rosto. A Dra. Alessandra mandou chamar o Dr. Sato, que a acompanharia no parto e ele veio medir a dilatação. Já havia alcançado os 10 dedos, mas o bebê estava muito alto, e mesmo com toda a força que a mãe estava fazendo, ele não estava descendo pra nascer. Foi aí que surgiu a frase que preocupou tanto a mim, quanto a Ju. “Se ele não descer em uns 20 minutos, teremos que fazer cesariana”. Aquela frase caiu como uma bomba aos nossos ouvidos, mais ainda ao ouvido da Ju, que teve uma gravidez regrada pra ter um parto normal, fez tudo certinho, esperou até os 45 do segundo tempo, teve as contrações, ficou mais de uma hora na mesa de parto fazendo força pro Iggor nascer de parto normal, e ele não queria vir de jeito nenhum... e foi o que aconteceu... vinte minutos depois, os médicos pediram pra eu sair da sala por um instante pra poder preparar tudo pra uma cesariana. Saí da sala e novamente fui bater um papo com Deus... sabia que tudo estava nas Suas mãos, e que por mais que tivéssemos preocupados, Ele cuidaria de tudo. Mais uma vez entreguei nossas vidas e fui chamado novamente pra “acompanhar” o parto. Quando cheguei a sala, meu desespero aumentou.
Pros que me conhecem, sabem que não posso ver sangue que minha pressão cai na hora e chego a desmaiar rapidamente. Entrei na sala, imaginando que teria um enorme pano em frente a Jú e que eu não veria nada do parto, só ouviria o choro do meu filho assim que ele nascesse. Engano meu. O tal “pano” que colocam em frente a mãe é muito pequeno e cobre somente a visão dela, e a de mais ninguém. Entrei e sentei quase de costas pra equipe médica, pra não ter que ver nada do que estava sendo feito ali. Mas minha curiosidade foi maior, e eu comecei a dar umas “pescoçadas” pra ver o que estava acontecendo. Na hora senti uma tremedeira no corpo, e aquele monte de sangue nas luvas dos médicos não me afetaram em nada. Comecei a observar cada movimento que eles faziam, ao som da Ju me dizendo “amor não olha, você vai passar mal”... não passei não... assisti todo o processo... abrir a barriga, cortar cada camada de pele, e na hora que meu filho ia sair mesmo da barriga, a pediatra disse em alto e bom som “PAPAI, VEM VER SEU FILHO SAIR”... aí não né? Aí já é demais, pensei eu em milésimos de segundos... rs... mas não poderia de jeito nenhum dizer não pra ela perante um pedido desses, e ainda mais na frente de tanta gente. Tomei coragem, e lembro de dizer apenas uma frase “Deus, me segura”... rs... levantei e fiquei bem de frente a barriga toda aberta da Jú. Vi quando a médica segurou o Iggor e o puxou pra fora da barriga. Meu filho deu um pequeno choro e foi entregue a pediatra, pra fazer a aspiração. Depois veio o choro de verdade, e que choro forte... Não contive as lagrimas... ver meu filho saindo da barriga da mãe foi o espetáculo mais fascinante da minha vida. As lagrimas escorriam pelo meu rosto sem nem mesmo eu conseguir contê-las, eram muitas lagrimas. A pediatra o levou para a “limpeza” e o trouxe uns cinco minutos depois. Enquanto isso fiquei conversando com a Ju e vendo os médicos fecharem ela... ela me olhou e disse “você viu nosso filho amor?” chorei mais um pouco junto com ela. Quando nosso bebê voltou limpinho, e pediatra o encostou perto do rosto da Ju, e depois me apresentou formalmente como o pai dele... rs .. que momento mágico.
Foi solicitado que eu saísse da sala de parto, pois a Ju teria que descansar um pouco. Saí e encontrei as avós na sala de espera com caras de ansiedade... contei tudo que havia acontecido e já era a hora de ver meu filhote na sala de pós parto. Ficamos babando o vidro enquanto olhávamos pra ele tomando oxigênio. Fui conversar com a médica sobre um tal aparelho que estava colocado no pé do meu filho e ela me disse que era pra medir a quantidade de oxigênio no sangue. As horas foram passando e a médica disse que a Juliana estava bem, que seria liberada pro quarto, mas que o Iggor ficaria em observação, tomando oxigênio. Ficamos preocupados, mas a médica nos orientou que era normal. A Jú desceu pro quarto, mas o Iggor continuava na sala pós parto, em observação.
A médica veio conversar comigo e explicou que o pelo formato do parto, ele teria inalado um pouco de liquido dentro da barriga, e que tinha afetado sua respiração. Deu diversos detalhes de como funciona a recuperação e disse que ele só iria pro quarto quando apresentasse melhora na respiração. Aquilo foi um belo balde d’água fria pra mim. Eu teria a responsabilidade de informar a Juliana sobre o ocorrido, pois ela havia acabado de descer pro quarto. Falei rapidamente com ela, e fui levar as avós em casa, pois estavam demasiadamente cansadas pela noite sem dormir, sentadas numa poltrona que não era nada confortável depois que se passam as primeiras duas horas. Isso já era umas 17hs da terça-feira.
Voltei pro hospital no horário da visita, ás 19hs. Em busca de novidades, mas não obtive muito sucesso. Só conseguiria conversar com a médica do plantão ás 21hs., no fim do horário de visitas. Já era quase dez da noite quando a médica veio conversar conosco no quarto, e o que ela trazia não era uma noticia animadora. Com toda calma e formalidade, ela explicou o que estava ocorrendo com nosso bebê: “Quando o bebê está na barriga da mãe, ele respira através da placenta, e quando ele sai da barriga, esses canais de respiração entre a placenta e o coração se fecham, e os canais do pulmão se abrem. No caso do Iggor, um desses canais do coração ainda está aberto, e ele está tendo dificuldades de respirar. Nós iremos fazer mais um exame ainda hoje e mantê-lo no oxigênio por esta noite. Como aqui embaixo não temos toda a aparelhagem pra isso, ele vai subir pra UTI essa noite pra termos mais eficiência na recuperação”. Ouvir a médica falar aquilo foi como se ela tivesse me dado uma facada. A sigla UTI me fez perder o chão, me dar taquicardia, tremedeira, minha cabeça fez um filme de tudo que havia acontecido desde o momento em que descobrimos que a Ju estava grávida, até o momento em que o vi saindo da barriga da mãe. Fizemos algumas perguntas pra pediatra antes dela sair pela porta do quarto. Assim que ela saiu, a Juliana não se conteve e chorou copiosamente. Segurei a barra e tentei dar força pra ela naquele momento, mas só Deus sabe o aperto que estava sentindo no coração. A médica voltou no quarto e me entregou um papel pra eu fazer a internação do meu filho na UTI. Tranqüilizei o quanto pude a Ju, e fui pra sala de internação. Eu estava visivelmente quebrado, meu semblante era péssimo. Fiz a internação, e ainda fui conversar com a médica se poderia voltar ao hospital ainda aquela noite pra saber o resultado do exame. Ela percebeu meu desespero e disse que estaria me aguardando a hora que fosse, e que me atenderia.
Saí do hospital por volta dás 23:00, peguei o carro e fui deixar a Giovanna na casa da minha sogra. Ah, a Giovanna estava comigo o tempo todo, e viu cada minuto do nosso desespero. No caminho chorei como nunca havia chorado em toda minha vida... não conseguia sequer orar. Foi um dos piores momentos da minha vida.
Deixei a Giovanna na casa da avó e fui pra casa da minha mãe. Cheguei lá estava minha mãe e a Bia na cozinha tomando chá, e quando entrei não me contive e desabei novamente. A Bia me abraçou e me deu seu ombro pra chorar. Me senti seguro ao lado delas e pude soltar aquele nó que estava na minha garganta. Depois de muito choro, e de ouvir palavras sábias das duas, fui até a casa do Manoel pra contar pra ele o que havia acontecido. Ele também me confortou com suas palavras e pude ficar mais calmo diante daquela situação. Beirava ás 01:00 da manhã quando esbocei uma saída de casa, pra voltar ao hospital e falar com a médica. O Manoel tentou me aconselhar a não ir naquele momento, e sim pela manhã que teria mais sucesso na minha busca por respostas, mas eu sentia dentro do meu coração que eu precisava ir naquele momento ao hospital. E eu fui. Cheguei no hospital ás 01:20 e fui chamar a Dra. Vanessa, responsável pelo plantão daquela noite, e ela me tranqüilizou muito, dizendo que os exames tinham sido animadores. Me explicou algumas coisas e me fez uma pergunta que me surpreendeu no momento. “Você quer ver o seu filho?”. Eu aceitei o convite, claro, e fui ver meu filho depois de toda aquela situação. Um dos meus maiores medos era encontrá-lo entubado, ou com algum acesso venoso, mas Deus não permitiu que isso acontecesse e ainda tive o privilegio de pegá-lo no colo pela primeira vez. Fiquei com ele por volta de trinta minutos e depois dei um jeitinho de ir até o quarto da Jú (mesmo fora do horário de visitas, o segurança permitiu que eu falasse com ela). Disse que estava com ele a pouco e expliquei pra ela tudo que a médica havia me havia dito, e depois fui pra casa bem mais aliviado.
Na quinta-feira pela manhã a Ju foi ao quarto amamentá-lo pela primeira vez, e ficamos com ele o dia todo. Foram dois dias de UTI que mais pareceram 2 meses.
Mediante a tanta oração e torcida de pessoas queridas, no sábado pela manhã ouvimos da equipe médica que nosso filho sairia da UTI e iria pra pediatria, pra ficar pelo menos mais 24 horas em observação. Realmente ele saiu da UTI no sábado e para o nosso espanto ele recebeu alta no domingo pela manhã. Como eu havia citado antes, quando Deus está no controle, as coisas acontecem conforme a Sua vontade, e a vontade d’Ele era que esse aprendizado pra mim, pra Jú e pra nossas famílias fosse naquele exato momento.
Saímos do hospital rumo a casa da vovó Augusta, de surpresa. Chegamos com nosso filho no colo, vestido de palmeiras dos pés a cabeça e quando entrei na cozinha, minha mãe olhou pro neto e vi o sorriso em seus lábios. Euforia pra ver nosso pequeno, meu irmão chegando na casa da minha mãe pra ver o sobrinho, comparações de “com quem parece”... uma felicidade completa. Saímos de lá uns quarenta minutos depois, rumo a nossa casa. Chegamos no portão e tocamos a campainha. A Jéssica (minha cunhada) veio até a porta e gritou pra dentro da casa da minha sogra “Mãe, o Iggor chegou”. A vitoria minha e da Jú em ter nosso filho nos braços, era a vitoria de todos os nossos familiares. Era nítida a felicidade estampada no rosto da minha sogra, cunhada, filha e a tataravó do Iggor. As lagrimas não se continham, e a felicidade era visível naquele ambiente. Subimos pra nossa casinha, e estamos a exatos cinco dias com nosso presente Iggor em casa. Somos uma família feliz e abençoada por Deus. Amo minha esposa Juliana, minha filha Giovanna e meu filhote Iggor. Só tenho a agradecer a Deus por tudo que Ele vem proporcionando a mim.
Resquícios? O Iggor tem um pequeno sopro no coração, mas o exame no Ecocardiograma deu pra médica ver que a veia está em fase de fechamento. Quase 50% da abertura já foi fechada, e o pouco que falta, logo estará zerado.
28/09/2010, ás 12:56:12 - Hospital e Maternidade São Camilo Unidade Santana, meu filho nasceu. Dia 02/10/2010, ás 10:32:50 ele saiu do hospital, me fazendo um homem realizado, e porque não. o mais feliz desse mundo?

4 comentários:

  1. Claro que vc ia aguentar, só que com certeza ia chorar q nem bebe, que eu me lembre remotamente vc é super emotivo, então PARABENS!!!! bem vindo ao clube dos que optaram pelo coração fora do corpo...é dificil te prepara, mas é muito legal. a emoçao mal começou, bjs a nova familia.

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  2. Simplesmente fascinante... curti bastante essa história Digão... to louco pra conhecer seu filho. espero poder conseguir um tempinho logo... mesmo que não consiga marcar com o grupo todo lah da facul. Abraço kra...

    Will
    http://willian.choicest.com.br

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  3. Realmente incrivel... Choro em lembrar... Emocionante!!!!!

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  4. Chamando dr Ranchocruts...

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    Até lá...
    Bom blog

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